Gripe A emporcalhada pela mídia

Ao invés de faturar com o pânico, os meios de comunicação deveriam servir à orientação da população.

Aumentar um problema, criar pânico, repetir exaustivamente um fato. Para informar a população? Para compensar a falta de assunto? Para vender mais jornal ou faturar mais com a audiência da TV?

Esta introdução serviria para qualquer comentário sobre a “pauta da vez”, seja sobre defuntos que demoram para enterrar (Michael Jackson e José Sarney, para citar dois exemplos), seja sobre a menina Isabela (minha TV é que correu o risco de ser jogada pela janela mas, para evitar este prejuízo a mantive desligada por vários dias) ou pra fritar os porcos (no sentido publicitário da palavra).

Conforme consta na Wikipédia, a pandemia de gripe A, causado pelo vírus Influenza A subtipo H1N1, que contém genes parecidos com os da gripe suína, surgiu no final de 2008, no México, e em alguns meses se espalhou por vários países do mundo.  O nome inicial, “gripe suína”, foi atribuído por causa desta semelhança (ainda que, cozinhando-se a carne de porco a 70º C, matam-se bactérias e vírus, como o influenza), contudo, já se constatou que a carne do porco não oferece riscos (a recomendação de cozinhá-la bem é para se evitar várias outras doenças). Em Abril de 2009, a OMS – Organização Mundial de Saúde passou a chamar a doença de “gripe A” e a classificou como “emergência na saúde pública internacional”.  A doença é também chamada de “nova gripe”, “influenza A” ou de “H1N1” (em referência ao tipo de vírus que a causa).

Para alguns jornais gripe "a" ainda é "suína"

Quer dizer, a mídia pegou uma suspeita (um novo vírus cujos genes se parecem com a da gripe suína), não esperou as avaliações (se a carne de porco realmente seria transmissora) e já propagou que a doença era gripe suína. Mesmo depois de Abril/09, ainda vemos meios de comunicação (até telejornais) usando o nome equivocado de “gripe suína”. Parte desta culpa é da própria fonte, a OMS, que através de notas oficiais, divulgou a nomenclatura “suína” mesmo sem comprovar a relação entre o novo vírus que ataca os humanos e o roliço animal.

Só no Brasil (terceiro maior produtor mundial de suínos), a suinocultura é responsável pela renda de 2,7 milhões de pessoas (considerando criação e agroindústria de carnes e derivados), segundo dados publicados em artigo no Eumed.

http://www.eumed.net/cursecon/ecolat/br/06/rgg.htm

Não sou lá grande apreciador da carne suína mas, gosto de uma boa calabresa assada e de um tender ao abacaxi. E não dá para ignorar a importância dos suínos para a economia brasileira, já sofrendo com a queda nas exportações e agora tendo seu produto, injustamente, derrubado pela mídia. É um abacaxi cru, com casca e sem tender, difícil de digerir.

A contaminação por gripe A é muito menor do que pela gripe comum, doença típica de inverno, estação atual do Hemisfério Sul (Brasil, inclusive). Segundo o Ministério da Saúde, o total de pessoas que morrem após contrair o vírus é de 0,5%, mesmo percentual da gripe comum.

Ou seja, muito medo da “nova gripe”, quando a velha gripe de todos os anos notadamente contamina mais e tem a mesma taxa de mortalidade, lembrando que geralmente não é a gripe e sim suas complicações (como queda na imunidade e pneumonia) que causam mortes. Até o interesse pela vacina contra a gripe caiu (comprovadamente eficiente para a maioria dos pacientes na prevenção da gripe comum, embora não previna a gripe A).

Pior, a cobertura diária sobre a doença parece se concentrar na contagem de mortos, como se fosse um placar.

Até parece que nova gripe seja mais perigosa que muitas doenças esquecidas pela mídia (“doenças antigas não dão manchete”). Fernando de Barros, em 04/08, comentou no Observatório de Imprensa, “o fato é que, até 31/07, a quantidade de vítimas da gripe A em todo o Brasil, desde o início do problema, ainda é similar ao número de baianos mortos em consequência da dengue (59) apenas no mês de Abril; o inverno está prestes a terminar e a dengue está prestes a começar a matar novamente. Jogar o mosquito da dengue no ostracismo ‘seria uma injustiça’. O que aconteceria se o governo fizesse boletins diários sobre a malária, que só em 2007 matou cerca de 4 vezes mais que a gripe A até agora?”

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=549JDB008

O Breno Barros (creio não ser parente do citado acima, rs), em seu “blog no meio do nada”, reportou que em Montevidéu (e noutras cidades do Cone Sul, por onde aquele blogueiro está circulando) existem medidas preventivas, mas sem o pânico tão propagado pela mídia, e que por outro lado, toda a economia destes locais turísticos está afetada, comprometendo a renda de milhares de famílias.

http://meiodonada.blogspot.com/2009/07/gripe-quando-midia-mente-e-destroi.html

Um bom exemplo

Aqui na cidade onde resido, Joinville, SC, no dia 14/08/09, ocorreu uma reunião na Câmara de Vereadores, onde participaram médicos, representantes dos órgãos públicos de saúde, políticos, líderes religiosos e jornalistas. O objetivo foi avaliar a real situação da gripe A na cidade.  Até a citada data, eram apenas 13 casos confirmados numa população de cerca de 500 mil habitantes. Ana Maria Jansen, do Hospital Hans Dieter Schmidt, destacou que “o pânico não gera o cuidado das pessoas, apesar de todo o estresse nas emergências dos hospitais, a situação está sob controle, é preciso orientar a população”. Também ficou claro é preciso ter cuidado igual tanto na situação da gripe A quanto da gripe comum e outras doenças de inverno.

O governo estadual (SC), por exemplo, está enviando mais recursos aos municípios, para ampliar o pronto-atendimento. Contudo, não foi verificada necessidade de suspender aulas na rede de ensino. Da mesma forma, empresas continuam com suas atividades normais. Apenas foram dispensadas as grávidas que tenham contato com o público ou remanejadas de função, em função do risco maior.

As igrejas (católica, luterana e evangélicas) não sentiram necessidade de suspender os cultos e missas (da mesma forma com que escolas e empresas não paralisaram suas atividades). Estão tomando precauções como adiar grandes eventos eclesiásticos, adotar dispensadores de álcool gel na saída dos templos e manter janelas abertas. Mais que isto, as comunidades cristãs adotaram um papel importante nesta situação, que é orientar a população e minimizar este clima de pânico.

Veja mais, sobre este caso, nesta matéria:

Sintomas, Tratamento e Prevenção

Sendo este blog sobre marketing e mídia, este artigo serve para avaliar como a mídia está tratando o assunto. Mas, aproveitamos para compartilhar algumas informações importantes sobre as gripes.

Os sintomas da gripe comum e da gripe A são similares: febre repentina, tosse, dor de cabeça, dores musculares, dores nas articulações e coriza. A principal diferença é a febre, geralmente na gripe comum não chega a 39º C e no caso da gripe A é de um início súbito, chegando a 39º C ou mais.  Segundo o Ministério da Saúde, não importa, neste momento, saber se o que se tem é gripe comum ou a nova gripe. A orientação é que, ao ter algum desses sintomas, procure seu médico ou vá a um posto de saúde. O médico indicará o melhor tratamento, para ambos os casos.

A automedicação pode ser prejudicial à saúde. Somente os médicos podem indicar o Tamiflu (fosfato de oseltamimivir), quando necessário, medicamento que o Ministério da Saúde garante possuir em quantidade suficiente. Embora para a gripe comum existam vacinas eficazes para a maioria das pessoas, ainda não foi desenvolvida uma vacina para a nova gripe.

A prevenção, tanto da gripe comum quanto da gripe A consiste em lavar bem as mãos frequentemente com água e sabão (especialmente ao retornar da rua e locais públicos ou após tossir ou espirrar); alguns locais públicos já contam com dispensadores de álcool em gel (para ajudar na higienização). Evitar tocar os olhos, boca e nariz após contato com superfícies, não compartilhar objetos de uso pessoal (como copos e toalhas) e cobrir a boca e o nariz com lenço descartável ao tossir ou espirrar.  Na falta de lenço, não usar a mão para cobrir a boca e sim o braço.  Quem apresentar os sintomas de gripe deve procurar um médico ou posto de saúde e não deve frequentar lugares fechados ou com aglomeração de pessoas.

Maiores informações e notícias sobre a gripe A podem ser obtidas no portal do Ministério da Saúde.
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=1616 
 

Por Charles A. Müller, profissional de comunicação social e editor do SiteCharles.com – com as fontes citadas no texto.

 

 

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One thought on “Gripe A emporcalhada pela mídia

  • 20/08/2009 em 12:45
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    Olá, Charles! Obrigado por ter citado o post do meu blog e parabéns pela lucidez do seu texto. Um grande abraço!

    Resposta

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