A Odisséia da Nova Mídia

Por Charles A. Müller, em 20/01/2000. Publicado no Jornal do Estado (Caderno a2, 29/01/2000), no Jornal Indústria & Comércio (Idéias, 01/02/2000) e na Gazeta Mercantil (Opinião, 28/01/2000).

O mundo não acabou com a chegada do ano 2000, o bug do milênio não trouxe sérias dores de cabeça (governos e empresas estavam realmente preparados), mas, o futuro das Comunicações, da Informática e da Economia começa a se consolidar.

Não, não estamos voando entre planetas como em “2001, Uma Odisséia no Espaço” (que Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke criaram para as telonas lá em 1968). Apenas as previsões dos últimos 5 a 10 anos é que começam a consolidar-se. O primeiro grande fato (talvez divisor de águas) deste futuro que chegou é a megafusão entre a AOL (América On Line) e a Time Warner.

No remoto (?) ano de 1995, um analista de sistemas perguntou o que esta “tal rede Internet” tinha de tão especial. Respondi que seu alcance mundial a tornaria um novo meio de comunicação e que empresas de tecnologia, como a dele, só teriam a ganhar com isto, se estivessem preparadas. No mesmo ano, lia as páginas do livro A vida digital (de Nicholas Negroponte), que explicava como TV e computador seriam um só meio de comunicação e que filmes, notícias, bancos e lojas seriam acessados de forma digital. Em 1996, ousei bancar o gurú escrevendo para alguns jornais que a interação mídia-receptor estava mudando drasticamente. Entenda por que a citada megafusão é a maior consolidação disto.

A Time Warner é um grupo de comunicações gigantesco que inclui produção de cinema (Warner Bros.) e vídeo, salas de cinema, gravadora de música (Warner Music), revistas (como Time, People e Fortune), livros, operadoras de cabo e emissoras de rádio e TV. Possui marcas como CNN, HBO e Looney Tunes (Pernalonga). Seus serviços (TV a cabo e revistas) têm 133 milhões de clientes. A AOL é o maior provedor de Internet do mundo (22 milhões de assinantes), líder nos EUA e dona da CompuServe e da Netscape.
Seria mais fácil compreender se a Time Warner (com raízes em 1922, faturamento de US$ 26 bilhões e 70 mil funcionários) comprasse a AOL (de 1985, faturamento de US$ 5 bilhões e 12 mil funcionários). Ocorreu o contrário, após US$ 166 bilhões envolvidos na fusão (troca de ações – a maior da história), a nova empresa será 55% da AOL e 45% da Time Warner. A AOL tem maior valor de mercado (US$ 164 bilhões contra 97, da Time Warner), e apresenta maior crescimento (em vendas 58,5% contra 9,7% e em ativo 86% contra -7,4%). A AOL-Time Warner nasce valendo US$ 350 bilhões.

Indepente de ter ocorrido ou não uma supervalorização das ações da AOL, já sabemos do potencial dos meios digitais integrados aos meios convencionais.

A causa do sucesso das empresas “pontocom” (as que trabalham com mídia e serviços via Internet), como AOL, Amazon, eBay e Yahoo! é o potencial para serem as grandes corporações do Século XXI, mesmo que apresentem prejuízos no presente, atraem tanto os investidores que suas ações são supervalorizadas. A tendência é que a AOL-Time Warner tenha um crescimento menor que a AOL, por se tratar de uma empresa “híbrida”.

A AOL tem um conteúdo restrito aos assinantes (como o brasileiro UOL), mas, precisava ampliar consideravelmente este conteúdo. Logo, o conteúdo da Time Warner é vital. Por outro lado, a Time Warner estava com problemas na distribuição digital de seu vasto conteúdo; problema que não existe mais. Além disso, agora, a AOL poderá prover Internet rápida e relativamente barata pelos cabos de TV da Warner (a concorrente Microsoft possui um acordo com a AT&T para operar Internet a cabo). E fica melhor preparada diante dos provedores grátis.

Aquele futuro previsto, com TV e computador unidos, lojas virtuais e distribuição de serviços, lazer e notícias via rede está muito mais presente. Pela AOL TV (já em testes), é possível acessar e-mail, bate-papo e ouvir o catálogo musical da Warner – tudo ao mesmo tempo – através da TV por assinatura.

A grande realidade para o ano 2001 ainda não são viagens ao espaço, são viagens digitais por todo nosso planeta sem sair de casa.

Charles A. Müller é profissional de comunicação e marketing, especialista em Internet e editor do SiteCharles.com

Atualização(2007): o próprio artigo, escrito na virada do século (e auge da “bolha”) fala em supervalorização das ações da AOL (o que foi levantado pelo mercado depois da fusão). Mas, sem dúvida, este fato foi um marco histórico.

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