A hora do ouvinte falar e do espectador aparecer!
Mídias do futuro serão extremamente interativas e segmentadas.
Por Charles A. Müller, 01/11/1996.
Artigo publicado em O Estado do Paraná, 10/11/1996.
“Oi, eu sou sua TV, você quer assistir ao noticiário geral ou econômico? ” Estranho? Não, uma cena comum de um futuro palpável. Em 1950, a TV chegou ao Brasil como veículo revolucionário. O ouvinte passou a ser telespectador. Agora vivemos uma outra revolução: a chegada das mídias digitais, encabeçadas pelo software multimídia e pela Internet.
Dados na forma de som, vídeo, texto, foto e ilustração são exibidos por computadores. A qualidade tende a aumentar, deixando papel e VHS para trás. Mas não é só a qualidade digital que faz a diferença. É a interatividade proporcionada pelos novos veículos.
Iniciemos pelo CD ROM, pequenos discos que trazem enciclopédias inteiras, dicionários, guias de compras e lazer, portfólios, institucionais etc. Vídeos e fotos são digitalizados (“scaneados”) e editados no computador, que trata de agrupar tais recursos numa só peça de comunicação. Produtoras especializadas também utilizam esta tecnologia na montagem de quiosques, computadores cobertos por metal ou mármore, controlados pela ponta dos dedos.
O outro grande veículo é a Internet, a rede mundial de computadores. Cada usuário possui uma caixa postal eletrônica (e-mail), que permite a troca de “cartas” pela grande rede. Na World Wide Web (Teia de Alcance Mundial), é possível ler (ou navegar por) publicações, formadas por páginas interligadas, os hipertextos. A Internet ampliou os horizontes da comunicação. Um professor no interior do Amazonas, pode ler a distância dados de pesquisa de um cientista francês. Sem o custo de impressão e distribuição, a Internet viabilizou uma série de veículos interativos (com qualidade a baixo custo). Empresas ganharam uma linha direta para divulgação e atendimento com o consumidor.
Mas, há uma outra grande mudança. A leitura das informações não é mais seqüencial. O usuário decide o que, como e quando vai receber uma informação. Experiências como o “Você Decide” ou “Pergunta Premida” serão coisas da vovó nas próximas décadas. Um filme com dois finais, terá um desfecho feliz para uma pessoa e um trágico para outro telespectador. Tal interação deve ser maior que o “avançar e voltar”, pois, até o VHS faz isto. Num Internet site ou CD ROM, o usuário tem vários botões (ou links) na sua frente. Ele irá definir a interação com a mídia. Obrigar um usuário a assistir a um vídeo comercial traz até resultados negativos para o anunciante. O correto é um botão ou link com logotipo, que mostra o vídeo quando acionado.
Na Internet, por exemplo, há um certo repúdio em relação a publicidade. Esforços enormes de tecnologia e dinheiro são inúteis para vários “sites chatos”, que só fazem propaganda do patrocinador e aparecem em listas como “o pior da Web”. É preciso fazer uma troca com o público. Ele visita a minha página na Internet e eu dou a ele programas, brindes, lazer ou informações – realmente úteis – para sua vida profissional.
A segmentação também é fator importante. A TV aberta no Brasil concentra menos de 10 canais. A TV paga iniciou com algumas dezenas, mas, tende a apresentar centenas de opções.
A Internet, por baratear a produção, traz milhares e milhares de endereços. Assim, é possível ter fontes de informação especializadas em medicina, ou até em neurologia ou ainda, com programas ou páginas sobre um tipo de neurocirurgia. Isto já é visível hoje. Quem gosta de música tem um canal de TV voltado aos clips, agora já existem canais de música específica (como country). Os que desejam estar bem informados contam com um canal internacional de notícias e agora com um nacional.
O retorno (feedback) é medido com maior precisão. Computadores registram o número de acessos (consultas) a uma página Internet ou apresentação em quiosque multimídia. Cupons eletrônicos são enviados por um simples aperto de botão.
É uma revolução fantástica. Para os que fazem a comunicação social, basta entender que o usuário está mais para nicho do que para massa, é mais exigente e participa do programa.
Charles A. Müller é profissional de comunicação e marketing, especialista em Internet e editor do SiteCharles.com
Atualização (2007): Este artigo acima foi escrito em 1996!!! Prova que a “velha Web 1.0” já foi concebida com o conceito de interatividade, de participação e que a “nova Web 2.0” é apenas resultado do aprimoramento tecnológico e da popularização disto.